O Brasil tem solo fértil, mas também um subsolo poderoso. E é exatamente dali que saem muitos dos protagonistas do mercado global de commodities, como o minério de ferro, o ouro e o cobre. Quando os preços dessas riquezas sobem no mercado internacional, a economia nacional respira — e com fôlego. Mas quando os preços caem, o baque se espalha. Vai da balança comercial ao emprego, passando pela inflação e chegando, inevitavelmente, ao seu bolso.

Segundo dados da UNCTAD, o braço de comércio e desenvolvimento da ONU, a exportação de commodities já chegou a representar mais de 6% do PIB brasileiro. Ou seja: o que acontece com o minério lá fora, reflete aqui dentro.

1. O que sobe, também pode descer

O cenário é cíclico. Quando a demanda internacional — puxada principalmente pela China — cresce, os preços das commodities disparam. Isso injeta dólares na economia, valoriza o real, aquece investimentos e faz com que gigantes do setor, como a Vale, abram novos postos de trabalho e expandam suas operações.

Essa bonança tem efeito dominó. Segundo artigo publicado no site da Associação Nacional dos Especialistas em Políticas Públicas e Gestão Governamental (ANESP), a economia mineral já respondeu por até 4% do PIB brasileiro. A mineração não é só um setor forte — é uma engrenagem que movimenta muitos outros.

Mas quando a maré vira, os efeitos negativos também se espalham. Um estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostra que a queda dos preços das commodities é uma das principais causas da desaceleração econômica brasileira nos últimos anos. Isso se reflete em menos dólares, real mais fraco, menos arrecadação e cortes em investimentos públicos e privados.

2. Do minério ao mercado

A alta dos preços pode até ajudar a controlar a inflação por meio da valorização cambial, como apontado em reportagem da Gazeta do Povo. Produtos importados ficam mais baratos. Mas isso também torna nossos produtos industrializados mais caros lá fora, prejudicando setores como o de manufatura e tecnologia.

E quando o preço das commodities cai, a inflação tende a subir. É o famoso “efeito cascata”: combustível mais caro, transporte mais caro, produtos mais caros. O impacto é real — e imediato.

3. O governo e a receita que oscila

A arrecadação pública anda de mãos dadas com o desempenho das commodities. Royalties, impostos sobre exportação e contribuições diretas são fontes importantes de receita. Em tempos de alta, sobram recursos para investir. Em baixa, vêm os cortes — e, com eles, os atrasos em obras, programas sociais e até salários de servidores.

Essa oscilação dificulta o planejamento de longo prazo. O país segue exposto ao que especialistas como André Kubota, da USP, chamam de “doença holandesa”: quando um setor forte desestabiliza outros por falta de diversificação econômica.

4. Valor agregado: o nó brasileiro

Apesar da força mineral, o Brasil ainda exporta muito minério bruto. Isso significa perder valor agregado. Como bem analisado pelo Nexo Jornal, o Brasil ganha muito menos exportando ferro do que ganharia exportando aço de alta performance ou produtos finais com tecnologia embarcada.

O desafio é conhecido: agregar valor. Processar, transformar e vender com maior margem. Isso exige políticas públicas voltadas à inovação, incentivo à indústria nacional e, claro, uma reforma estrutural que diminua a dependência de poucos produtos.

5. Sustentabilidade: a conta invisível

A mineração é, por natureza, uma atividade de alto impacto ambiental. Em épocas de bonança, sobra caixa para investir em boas práticas. Mas nos ciclos de baixa, as empresas podem cortar custos onde não deveriam: na proteção ambiental e no relacionamento com as comunidades.

Manter um padrão sustentável, mesmo em momentos difíceis, é mais do que uma obrigação ética — é uma estratégia de longo prazo. O mundo está cada vez mais atento ao ESG (ambiental, social e governança), e empresas que não se adaptam tendem a perder espaço.

Conclusão

O Brasil está preso a uma gangorra. A flutuação no preço do minério afeta desde as finanças do governo até o preço do pão. A mineração, sozinha, não vai garantir o futuro econômico do país. Mas, com estratégia, pode ser uma ponte segura.

É hora de planejar. De investir em inovação, em agregação de valor e em responsabilidade ambiental. O Brasil tem riquezas no chão — mas o futuro está em como vamos tirá-las de lá.

Shares:
Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *