Até o mês passado, a gente tinha uma ideia bem fixa na cabeça sobre cristais: por terem aquela estrutura toda organizada, eles eram excelentes em conduzir calor. Era uma via expressa para a energia térmica. Já os vidros, com sua estrutura mais “bagunçada”, eram o contrário – pois são maus condutores de calor, que, aliás, é uma característica ideal para supercondutores, porque reduziria a necessidade de usar um monte de material de resfriamento.
Mas aí, uma nova descoberta deu um chacoalhão forte na comunidade científica. O assunto? Um material único, com propriedades que ninguém nunca tinha visto na ciência. Um cristal se comportando como vidro, em termos de condução de calor, isso é único e deixou a comunidade científica revirada de ponta à cabeça.
No dia 04 de junho de 2025, a revista Advanced Science publicou o artigo que virou o jogo. O artigo revela o BaBiO3, mais conhecido como Bismutato de Bário ou perovskita de bismutato. Mas o mais importante, e que deixou os brasileiros com aquela sensação boa, foi que a pesquisa contou com o apoio fundamental de uma tecnologia completamente brasileira, nosso supercomputador brasileiro, o Santos Dumont.

Santos Dumont: O Brasil Brilhando na Ciência de Ponta
O supercomputador foi peça-chave, crucial mesmo, para a equipe de cientistas. Eles usaram o Santos Dumont para rodar simulações e fazer uns cálculos supercomplexos, lá na escala dos átomos. Foi como ter uma visão de raio-x. Com ele, os cientistas conseguiram “olhar” por dentro do BaBiO3. Viram como os átomos se comportavam, com uma precisão que nenhum laboratório normal conseguiria.
O Santos Dumont nesse trabalho, que vai ter impacto global, mostra a força do Brasil na ciência e tecnologia. O supercomputador, localizado no Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC/MCTI), em Petrópolis (RJ), é o mais rápido da América Latina destinado à pesquisa científica. Isso coloca a gente numa posição de destaque. Prova que temos estrutura e gente boa pra fazer descobertas que mudam o jogo. É um baita orgulho pra pesquisa feita aqui.
BaBiO3: O Cristal que Desafia a Lógica
Mas como um cristal tão “perfeito” pode se comportar de um jeito tão fora do comum? Os cientistas, com uma baita sacada, propõem uma explicação que é bem elegante. Eles falam de um “sistema de dois níveis por tunelamento” (TTLS). Isso tem a ver com a rotação de umas “pequenas engrenagens atômicas” – os octaedros de BiO6 – que ficam lá dentro da estrutura do cristal.
Quando essas “engrenagens” internas se movimentam, elas abrem mais espaço para espalhar os fônons — as partículas que levam o calor. Esse espalhamento a mais, no fim das contas, faz o calor se espalhar bem menos. Por isso, o BaBiO3 tem características tão diferentes. Elas realmente desafiam tudo que a gente conhecia até agora.

O Futuro da Supercondutividade e da Indústria
Essa descoberta é muito empolgante! Pra indústria de tecnologia, as consequências são gigantes. O futuro dos supercondutores de alta temperatura pode ser redesenhado por completo, tudo por causa disso.
A pesquisa com o BaBiO3 aponta que ele pode ser o ponto de partida pra criar materiais com estruturas totalmente novas. Isso nos daria o poder de controlar o calor lá no nível atômico, um domínio que nunca tivemos.
Pensa nas possibilidades: supercondutores funcionando em temperaturas mais fáceis de alcançar e com muito mais eficiência. Isso reduziria custos e abriria um monte de portas pra inovações. Pense em eletrônica, computação, ou até mesmo no jeito que a gente transmite energia. O impacto seria gigantesco. Uma revolução de verdade, que pode estar começando agora, tudo por causa desse cristal que virou o mundo da ciência de ponta-cabeça.
Por Trás da Pesquisa: Colaboração e Apoio
O estudo teve o apoio de pesquisadores do Instituto de Física da USP (IFUSP) e do Departamento de Física da UFMG. Teve gente de fora do Brasil também, de instituições internacionais do Reino Unido e Alemanha.
A líder da equipe foi a professora Valentina Martelli, do IFUSP. Ela é especialista em transporte térmico. Contudo, a pesquisa também fez parte do doutorado de Alexandre Henriques, também do IFUSP.
Para as medições, foram usados equipamentos desenvolvidos no próprio grupo e também no LNNANO (CNPEM, Campinas). A modelagem computacional, aquela parte feita no Santos Dumont, foi conduzida pelo professor Walber Brito, da UFMG. Ele utilizou técnicas de computação de última geração para ter alta precisão.
Essa pesquisa experimental contou com a participação de cientistas do ISIS Neutron and Muon Source, no Reino Unido, e do Instituto Max Planck, na Alemanha. O projeto ainda recebeu financiamento importante da FAPESP, CNPq e do Instituto Serrapilheira.