Nos últimos anos, o que era tendência virou realidade: a água virou um ativo estratégico — e motivo de conflito. Em regiões onde mineração e escassez hídrica se cruzam, o que está em jogo não é só a produção mineral, mas o próprio acesso à vida.

A pergunta é direta: como a falta de água está redesenhando os rumos da mineração no mundo?

O que está em disputa?

A água é essencial em praticamente todas as etapas da mineração: perfuração, processamento, controle de poeira, barragens, e até nos sistemas de segurança. Mas em muitos países — incluindo o Brasil — essa mesma água também é disputada por lavouras, comunidades e cidades inteiras.

Quando a mina consome milhões de litros por dia, e o município do lado enfrenta rodízio, o conflito não é mais técnico. É político. E humano.

Casos que escancaram o problema

Chile: litígio entre cobre e deserto

Maior produtor mundial de cobre, o Chile já enfrenta racionamento hídrico severo no norte do país, onde operam grandes mineradoras como Codelco e BHP. A extração em regiões como o Deserto do Atacama pressiona os lençóis freáticos, e a população local acusa as empresas de “sugar o que resta”.

África do Sul: mineração em áreas de escassez

Já em partes da África do Sul, comunidades rurais vivem sem abastecimento regular, enquanto operações de mineração metálica consomem água subterrânea em ritmo industrial.
Vários protestos levaram à paralisação de projetos e revisão de licenças.

Brasil: o paradoxo da abundância

Apesar de termos uma das maiores reservas de água doce do mundo, o Brasil não está fora do conflito.
Regiões como o semiárido nordestino e parte do Centro-Oeste já enfrentam conflitos entre mineração e pequenos agricultores.
E em Minas Gerais, a dependência de água em barragens e rejeitos levou a tragédias conhecidas — como Mariana e Brumadinho — onde a falta de controle se somou ao excesso de uso.

A água como fator geopolítico

Governos estão começando a restringir ou condicionar licenças ambientais ao uso racional de água.
Na prática, empresas que não apresentam planos de reuso, captação sustentável ou tratamento eficiente estão ficando para trás.

E esse movimento não é só ambiental. É econômico.

  • Fundos internacionais estão vetando empresas com histórico de desperdício hídrico.
  • Certificações ESG exigem metas claras de uso de água.
  • Alguns países estão precificando a água como insumo — com tarifa alta para mineradoras.

Quem se adapta, sobrevive

Há soluções — e algumas mineradoras estão se antecipando à crise:

  • Jacobina (BA): reuso de 95% da água no processo.
  • Vale: projetos de captação de água de chuva e circuitos fechados de processamento.
  • Minas no Peru e na Austrália: adoção de técnicas a seco ou uso de salmoura dessalinizada, mesmo com alto custo.

Esses exemplos mostram que a tecnologia existe — o que falta, muitas vezes, é prioridade.

Mineração e água: dá pra coexistir?

A resposta curta: sim, mas não como antes.
Mineração do século XXI precisa incluir água como item central do planejamento.
Não dá mais pra tratar esse recurso como se fosse “de graça” ou “infinito”.

Quem insiste nesse modelo antigo corre o risco de perder licença social, reputação e, em última instância, mercado.

Conclusão

A guerra da água já começou — e a mineração está no centro do mapa.
Não é sobre parar de minerar, mas sobre mudar como se minera.
E isso envolve mais do que tecnologia: exige transparência, fiscalização e, principalmente, escuta ativa das comunidades envolvidas.

Porque no fim das contas, sem água, não há minério.
E sem diálogo, não haverá licença — nem presente, nem futuro.


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