Nem todo herói carrega um nome conhecido. Disprósio e neodímio, por exemplo, raramente aparecem nas manchetes, mas estão presentes em boa parte dos aparelhos e sistemas que fazem o mundo moderno girar. Dos motores elétricos aos fones de ouvido, esses elementos chamados de “terras raras” estão ganhando espaço — e o Brasil tem motivos de sobra para prestar atenção neles.

Entenda por que eles importam

Disprósio e neodímio não são exatamente raros, mas também não são fáceis de encontrar em forma pura, muito menos de extrair e processar. Fazem parte do seleto grupo de elementos com propriedades magnéticas e térmicas que os tornam ideais para uma série de aplicações tecnológicas.

O neodímio, por exemplo, é a estrela dos ímãs de alta performance. Já o disprósio atua como um estabilizador, permitindo que esses ímãs mantenham sua força mesmo sob altas temperaturas — algo essencial em motores, principalmente os elétricos.

Onde eles estão — e você nem imagina

Esses metais aparecem discretamente em tecnologias que fazem parte da sua rotina:

  • Motores de veículos elétricos;
  • Geradores de energia eólica;
  • Equipamentos médicos como ressonância magnética;
  • Fones, caixas de som, discos rígidos;
  • Drones, satélites e sistemas de defesa.

Estão por toda parte. E, apesar disso, quase ninguém fala deles.

Motores elétricos: o casamento perfeito

Na hora de escolher o coração de um veículo elétrico, o conjunto neodímio-disprósio costuma ser a escolha certa. Eles possibilitam motores mais compactos, potentes e eficientes. O neodímio garante a força; o disprósio assegura que o desempenho continue estável, mesmo em uso intenso.

Sem essa dupla, o avanço dos carros elétricos, por exemplo, seria muito mais lento e caro. E o mesmo vale para turbinas eólicas e até equipamentos industriais de alta precisão. Segundo relatório da International Energy Agency (IEA), o neodímio é um dos elementos críticos para motores elétricos de ímã permanente.

Quem manda no jogo?

Hoje, quem domina o fornecimento é a China — e com folga. Mais de 80% do processamento global de terras raras acontece lá, de acordo com dados do US Geological Survey (USGS). Isso acende alertas em vários países, especialmente entre os grandes consumidores, como EUA, Japão e Alemanha, que vêm buscando alternativas para reduzir essa dependência.

Em 2023, a União Europeia reforçou seus investimentos em projetos estratégicos para terras raras, e os Estados Unidos anunciaram incentivos para produção doméstica, como forma de segurança econômica e tecnológica.

E o Brasil, onde entra?

O subsolo brasileiro guarda promessas. Minas Gerais, Bahia, Amazonas e Goiás já mostram potencial geológico para terras raras. Um dos projetos mais promissores é o da Serra Verde, que vem avançando na produção em Goiás. A estimativa é que o local possa se tornar um dos poucos produtores fora da Ásia com capacidade de suprimento em escala, como aponta reportagem da Reuters publicada em 2024.

Mas há um desafio evidente: temos a matéria-prima, mas ainda tropeçamos na etapa do refino. É justamente nessa fase — de separação e processamento — que está o maior valor agregado. Sem dominar essa parte, o país corre o risco de repetir um velho roteiro: exportar bruto e importar caro.

O lado ambiental da equação

Extrair terras raras não é simples. Envolve uso de produtos químicos, muita água e, às vezes, até materiais radioativos. Não dá pra ignorar os impactos. Se o Brasil quer avançar nesse mercado, vai precisar fazê-lo com responsabilidade — do licenciamento ao destino dos rejeitos. Um estudo da Universidade de Campinas (Unicamp), divulgado em 2022, destaca que o país ainda precisa desenvolver protocolos ambientais específicos para o setor.

A oportunidade está aqui

O mundo precisa desses metais. E o Brasil tem os ingredientes para entrar nesse jogo. Se investir com inteligência — em pesquisa, infraestrutura e sustentabilidade — pode se posicionar como um fornecedor confiável e competitivo.

Disprósio e neodímio não são só temas de laboratório. Eles estão conectados à energia limpa, à mobilidade do futuro, à transformação da indústria. E o melhor: ainda dá tempo de virar protagonista nessa história.

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