Vamos direto ao ponto. Você provavelmente já ouviu falar em “terras raras”, mas a verdade é que o nome engana. Não são tão raras assim. O que elas são, na verdade, é a alma de praticamente toda tecnologia de ponta que usamos hoje. Pense nos superímãs que fazem o motor de um carro elétrico ser leve e potente, ou que permitem a uma turbina eólica gigante girar com máxima eficiência no meio do oceano. É disso que estamos falando.
Para entender o que são as terras raras, esqueça a tabela periódica. Na prática, o mercado tem uma obsessão por cinco elementos desse grupo: neodímio, praseodímio, térbio, disprósio e ítrio. Juntos, eles formam a base dos ímãs mais poderosos do planeta, os famosos ímãs NdFeB. Eles são tão absurdamente fortes e resistentes ao calor que se tornaram a espinha dorsal da transição energética e da era digital. A demanda por neodímio para carros elétricos, por exemplo, não para de crescer.
O problema? Hoje, a China controla o beneficiamento. Cerca de 90% da separação química desses elementos acontece por lá. Pequim sabe o poder que tem nas mãos e usa isso como uma ferramenta estratégica, gerando um risco gigantesco para o resto do mundo. Diante disso, EUA e Europa entraram em pânico e abriram a carteira, buscando desesperadamente por novos parceiros.
E onde o Brasil entra nessa história? Bem, nós temos o que eles procuram.

O mapa do tesouro brasileiro: nossos projetos em destaque
Enquanto o mundo procura, o Brasil começa a mostrar suas cartas. E temos projetos promissores de norte a sul.
Em Minas Gerais, no Complexo de Araxá, a história é fascinante. Onde o nióbio já é rei, uma nova riqueza está sendo revelada no mesmo minério, o carbonatito Araxá NdPr. A gigante CBMM já tem toda a infraestrutura pronta: energia, ferrovia e 60 anos de conhecimento. É como descobrir que sua fazenda, além de dar o melhor café, também tem uma mina de ouro debaixo do pomar. A meta é ter uma planta piloto rodando já em 2025.
Subindo para Goiás, encontramos o projeto Serra Verde terras raras. Aqui, a geologia é a estrela. O depósito é de argilas iônicas, um tipo de minério macio, muito parecido com os do sul da China, que dispensa processos agressivos. A extração é mais limpa, barata e ambientalmente correta, com quase toda a água recirculada e sem a necessidade de barragens de rejeitos. O projeto já está em fase de aceleração comercial, mostrando que o Brasil sabe fazer bem feito.
E na Bahia, o projeto Mata Azul, da Brazilian Rare Earths, desponta como a próxima grande aposta, com um estudo de viabilidade animador e planos para exportar um concentrado valioso a partir de Ilhéus.
Como um investidor pode participar disso?
A pergunta de um milhão de dólares. Felizmente, as portas de entrada estão se abrindo. Para quem gosta da bolsa, já existem BDRs de gigantes gringas como a MP Materials e a Lynas. Mas a grande expectativa é por uma futura parceria entre a Nexa e a CBMM aqui no Brasil.
Para quem prefere diversificar, os ETFs como o REMX são uma mão na roda, investindo em várias empresas do setor de uma só vez. Já para os mais ousados, com conhecimento geológico, é possível negociar contratos diretamente com as mineradoras juniores, trocando capital por uma fatia da produção futura. E não podemos esquecer da “mineração urbana“: startups que recuperam esses valiosos ímãs de lixo eletrônico, um caminho mais verde e extremamente promissor.

De vendedor de pedra a fabricante de tecnologia
O Brasil tem uma chance de ouro de não repetir os erros do passado. Em vez de apenas exportar o minério bruto, o plano é audacioso e claro.
Primeiro, ganhar escala na produção do concentrado até 2027. Depois, instalar plantas de separação química para purificar o material aqui mesmo. O passo seguinte é atrair um parceiro japonês ou europeu para produzir as ligas metálicas. E o xeque-mate, a partir de 2030, seria ter uma fábrica de superímãs sinterizados, fornecendo diretamente para as montadoras de carros elétricos que já estão no país.
Se essa estratégia der certo, estamos falando de capturar uma fatia de 6% do mercado global de ímãs, injetando 3 bilhões de dólares por ano na economia. É cinco vezes mais do que ganharíamos apenas exportando o concentrado.
As terras raras deixaram de ser uma curiosidade de laboratório para se tornarem um pilar geopolítico. O Brasil tem a combinação perfeita: reservas, conhecimento metalúrgico e energia limpa. Para quem tem visão, a hora de estudar o setor é agora. O ciclo que se inicia em 2025 pode ser, para as terras raras, o que as últimas décadas foram para o nióbio. Uma oportunidade única de transformar riqueza natural em liderança tecnológica.